quarta-feira, maio 12, 2010

Diario da Dinamarca #4

Muita chuva no dia de hoje, o que significa ficar em casa mais um dia. A noite toco num lugar super agradável chamado Barbarelah ao lado do Anders, membro do Junkyard – conhecido e excelente grupo de dub local – e da Carla, carioca, ex-back vocal de Daude, atualmente morando na ponte Rio-Copenhagen.

A chuva foi uma boa chance de testar uma jaqueta que comprei ontem sob sugestão de um amigo. Eh basicamente um jaqueta para esporte no frio então eh leve, protege do vento externo e transpira-se sem problemas. Ela ficou toda molhada mas eu sai incólume, sequinho, quente e sem a sensação de estar vestindo uma armadura como era o casacão anterior, muito útil, muito eficiente mas pesado como a consciência de um deputado.

Fui num kebab comer algo – um kebab, claro! – e estava exepcionalmente delicioso. A carne do Kebab eh o que no Basil se chama churrasco grego, aquele cilindro de carne processada e bem temperada. O Maior que eu jah vi foi em Istanbul e tinha uns dois metros que era consumido rapidamente em poucas horas.
Para preparar, o cara do restaurante corta a carne em fatias fina, mistura com salada, enrola numa massa igualmente fina e esta pronto. Comida completa com proteína, carbohidrato, legumes e com uma boa relação custo beneficio. Em alguns lugares esse tipo de ambiente parece sujo e descuidado mas aqui inspira higiene, portanto, sem problemas para o corpo.

Andando sob a chuva me lembrei de um pequeno poema de Bertold Brecht :

“Para Ler De Manhã E À Noite

Aquele que amo
Disse-me
Que precisa de mim.
Por isso
Cuido de mim
Olho meu caminho
E receio ser morto
Por uma só gota de chuva.”

Já repeti isso pra mim varias vezes em muitas viagens, em momentos difíceis e desanimadores quando havia um porto seguro, um lar e uma razão para voltar a casa.
Hoje tem apenas a casa e nesse momento cuido de mim apenas por mim. Meu amor virou o trabalho e eh a ele que não quero desapontar. Ficar doente significa perder shows ou comprometer a qualidade deles. Para um homem de formação romântica como eu eh meio desapontador tornar-se isso.
(como dizem os russos, “ A vida eh assim mesmo”.)

O amor, como a liberdade ou a arte são conceitos vagos que se adequam a visão daqueles que os buscam e não tem princípios morais nem significam necessariamente o belo, o bom, o certo... Liberdade para mim tem sido a solidão, a idéia de que posso sumir, que posso não voltar, que meu desaparecimento não afetara a vida de ninguém. Exerço meus vícios com demasia ou simplesmente me protejo da chuva. Tanto faz e esse tanto faz eh um verdadeira representação do espirito livre.

Andando pelas ruas penso como nos, no Brasil, somos um povo cheio de diferenças físicas bastante visíveis, a mistura de raças gerou seres feitos em moldes diferentes, cores, tamanhos, cabelos, gestos e linguajar tão vastos quanto a dimensão do pais. Rostos ossudos são primos de caras redondas como a lua, gordinhos sararas tem irmãos magros e de pele amarronzada, e casais, um deles pode ser loiro, com pentelhos escuros combinando com uma morenas de cabelo amarelado.
Isso traz tipos marcantes, resultados de tantas misturas, imagens fortes e singulares a qual nos acostumamos no dia-a-dia e que estranhamos a ausência quando num pais mais homogenico como o Japão ou ... a Dinamarca.
As loiras são tão parecidas umas com as outras que já me dão enjôo. Não sei distingui-las, todas saídas de uma fabrica onde as maquinas estão bem reguladas e o controle de qualidade eh rígido e exato. Quando encontro minha room mate no ambiente externo levo alguns segundos para separa-la mentalmente de seu grupo de amigas.

Ainda por cima vestem-se de modo idêntico: roupas escuras, sóbrias, botas de frio e,eventualmente uma luva. Para mim soa como um exercito de anônimos onde a idéia de moda como forma de expressão esta diluída numa formula simplória. Ou, quem sabe, o simplório sou eu...

Falando de cores, estou lendo um livro de Ryszard Kapuscinski, “Imperium”, sobre seu contato com a extinta União Soviética. La pelas tantas, descrevendo a brancura absoluta da paisagem siberiana, um nada feito da ausência de cor, sagrado por seu vazio, onde cultua-se os animais brancos como divinos, ele nota o valor do preto e do branco em culturas diferentes:
“ Em civilizações onde cultiva-se a angustia da morte, os enlutados vestem-se de negro para afugentar a morte, isola-la, restringi-la ao defunto. Contudo, la (na Sibéria) onde a morte eh vista sob outro prisma, a postura existencial também eh outra: os enlutados vestem-se de branco e de branco vestem o morto – o branco aqui eh a cor da aceitação, desígnio do destino.”

As roupas nas lojas dos “árabes” são pudicas mas, inesperadamente, ha uma cor forte e viva saltando misturado a dourados e pratas enquanto nas lojas dinamarquesas a discrição dos cinzas e pretos se sobressai alternando-se com tons pasteis desprovidos de energia vital.

2 Comments:

Blogger Bruno Portella said...

De novo: não é Bruno, mas a mãe (vou ter que fazer uma porcaria de um gmail).

Lindo o poema. Se não por você, que é o que mais importa, cuide-se por nós. Por mim, que seja.

3:53 AM  
Blogger Bruno Portella said...

De novo: não é Bruno, mas a mãe (vou ter que fazer uma porcaria de um gmail).

Lindo o poema. Se não por você, que é o que mais importa, cuide-se por nós. Por mim, que seja.

3:53 AM  

Postar um comentário

<< Home