Pegando um bronzeado na Suécia
As revistas pornôs suecas educaram uma geração a qual pertenço, uma era de sombras e moralismo hipócrita, misto de teocracia e militarismo. Assim era o Brasil das meus dez anos de idade, na distante Aracaju. Cada revistinha sueca – podiam ser dinamarquesas, mas o registro que ficou é que eram suecas – promovia uma pequena orgia visual entre os meninos enquanto as garotas – já em pleno exercício do peculiar cinismo feminino - fingiam não se interessar por aquelas fotos de corpos pálidos e magros, expostos em posições sexuais que duvidávamos nossos pais fossem capazes de fazer.
Depois da primeira olhada, as meninas eram as mais ávidas e seguiam-se comentários como “nunca vou fazer isso com meu marido”, ou “que horror” para mais uma devoradora varredura visual no que era a coisa mais próxima de um manual de sexualidade que chegava em nossas mãos.
Agora estou de volta a Suécia, em Gontomborgue, em pleno verão, vestindo camisetas e reclamando do sol quente queimando meu corpo. Talvez apenas eu reclame pois a população local rola na grama dos parques e cobre-se de trajes minúsculos para melhor aproveitar os poucos dias de pleno verão numa terra que se caracteriza por longas noites de frio intenso e introspecção. Antes eu já havia estado em Mälmo, num grande festival internacional que cobria toda a cidade e, desde aquela época me perguntava onde estava toda aquela permissividade sueca das minhas memórias juvenis. Calados, fechados em si, não ha sequer uma troca de olhares ou um gesto sedutor entre esses seres da raça humana. A nudez é tão banal que se esvazia de sensualidade e o respeito – ou seria medo – do próximo deve ter raízes fortes nessa cultura a ponto de inibir gestos maiores de alegria e tristeza.
Alcool e cigarros são tão perseguidos que as crianças olham com nojo para os fumantes e beber uma saideira é coisa que não faz parte do repertorio desses galegos contidos. Como em qualquer cultura reprimida, basta uma cabelinho de sapo para que a liberdade se torne libertinagem. Junks sombrios se esgueiram pelas ruas, alcoólicos enlouquecidos discutem com fantasmas interiores e, voltando para o hotel depois do show, pude contemplar o esporte favorito entre as jovens suecas embriagadas: o ass hooker ou, traduzindo livremente, queda de bunda, uma variação da queda de braço só que com duas moças deitadas no chão numa posição que, agora sim, me fazia retornar aos bancos da quarta serie.
6 Comments:
muito bom. O nosso imaginário sobre a "civilização", sobre países como suécia, suíça, inglaterra são tão fomentados.. e ai um dia a gente ve isso aí de perto... E percebe que não existe melhor lugar que nosso brasil, o mesmo que tanto criticamos e julgamos involuído. A gente começa a enxergar os valores de forma diferente. Evolução é calor humano, é liberdade, é mistura, é criatividade, é jogo de cintura.
Não troco essa terrinha aqui, com todos os defeitos, pelo frio (principalmente humano) de londres, por exemplo, apesar de londres ser a "meca" da música, apesar d'eu gostar de música mais do que tudo na vida...
nossa! que bueno... adorei a volta aos bancos da quarta série...rs
Esse seu texto me faz lembrar de quando fui a Londres e fiquei indignada como eles mudam completamente quando sol sai um pouquinho! É uma verdadeira catarse.
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beijos de uma aracajuana!
Oi Dolores!
Vim aqui, pra te dar parabéns por mais um prêmio!
Vc merece, pq coisas boas merecem sempre ser reconhecidas neh?!
E viva o aparelhagem!
Continue seu trabalho, que eu sou fã!
=**
Olá Dolores.
Muito bacana você trazer ao nosso conhecimento um pouco da "intimidad"' desta cultura ambígua.
Grande abraço!
E cai por terra meu entisiasmo por estas suecas, irlandesas, ou coisas parecidas...logo agora que reencontrei, lá na rua do sossego, a brochura (no sentido literal da palavra), com tais atos, que tanto me deliciaram na adolescência. Um viva as meninas da Conselheiro Aguiar...Muitos vivas ao senhor Dolores.
Elas diziam “nunca vou fazer isso com meu marido”, por isso você não casou com elas???
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