sábado, junho 10, 2006

Da lama ao caos

É junho e estou em pleno carnaval. Alguém pôs algo em meu drinque? Não, é que estou em Berlin e nesse período pré-Copa do Mundo a farra começa cedo com um bizarro carnaval à moda alemã. Cheguei até aqui trazido pelo pessoal da Radio Multi Kulti para uma aparição breve em sua transmissão especial no meio da folia.
La fora, imigrantes indianos desfilam carros alegóricos incensados em aromas exóticos, seguidos por uma fanfarra composta em sua maioria por galeguinhos e galeguinhas que, gradualmente, aceleram a musica até o limite do hardcore, tudo acompanhado por curiosos olhos claros. Suas mentes devem estar dançando, mas seus corpos estão paralisados. Movimento apenas nos dedos indicadores, disparando fotos com câmeras digitais.
Exótico, sem duvida, mas nem tanto quanto o afoxé baiano que envolveu participantes e publico com uma intensidade genuína. O contrario disso foi o fiasco apresentado pelos caras do Jazzanova na Casa das Culturas do Mundo, um DJ set baseado em hits da MPB da década de oitenta, bobo e com o pior do gênero tipo, Djavan!
Na noite anterior, o Bonde Faz Gostoso, liderado pelo figura que se auto-intitula Rogério, o Fenômeno, com participação de um dos MCs do Bonde do Vinho trouxe o baile funk vivo e esperneando para o publico alemão. Reação: homens embasbacados pela audácia das dançarinas, mulheres – brasileiras, claro – derramando libido na pista esvaziada de locais. Sem entender as letras e fora do ambiente dos bailes e seus poderosos sound systems, os pancadoes perdem a força. Mesmo asssim, por aqui, já estão associados a cultura brasileira, assim como o samba e aqueles drumanbeissinhos fuleiros com samples de violão.
Pois e: tem gente que ainda se importa com drum’n’bass! E caras como Doc Scott e os heróicos Metalheadz, diretamente de Londres, assombram as noites iluminadas da cidade com batidas a mais de 180 BPM enquanto festas ao estilo Bollywood se proliferam em tracks cada vez mais incríveis num equilíbrio entre a completa cafonice e batidas perfeitas. Para se jogar no curry!!!
Falando em pista cheia, em outro ponto da cidade, festeiros 24 horas recebiam Ricardo Vilalobos e Carl Craig no club Panorama, o lugar em que as portas estão sempre abertas para o hedonismo clubber.

Do caos à lama

Nada mais bacana que andar rápido, sem parar – estilo Jack Kerouac – enquanto as trilhas sonoras se alternam nos restaurantes, lojas, bares e mesmo em traillers de lanches. Ouve-se de tudo nessa Babilônia sonora: banghras, calypso, reggae, rock clássico, reggaeton – em baixa depois do estouro no ultimo verão – tecno e os indefectíveis tracks de lounge music – “lounge e um lugar que não existe”, diria o gaiato.
Para cada estilo musical, um estilo de vida, um pedaço de cultura deslocado, se instalando em outro pedaço de mundo. Éticas diferentes, vidas cruzadas, confrontos lingüísticos. Isso sim podemos chamar de diversidade cultural.
Recife, minha cidade ensolarada, tanto quanto equivocada, se ufana anacronicamente do curto período da presença holandesa. O tipico orgulho que o cachorro tem do seu dono.

Um homem roubado nunca se engana

Bootlegs – ou smash ups -, tão citados nessa coluna, são faixas não autorizadas, versões que fundem outras musicas em hibridos, geralmente voltadas à pista de dança. Na rua onde estou hospedado tem uma lojinha com bootlegs em vinil. Graciosos sete polegadas com In the ghetto, do repertorio de Elvis em versão dub jamaicana ou um insolito encontro entre os Beastie Boys e o Gordo e o Magro, maxi-singles em que o atormentado Jim Morrison sacode as ancas ou um incrível remix pirata de jazz etíope.
As copias tem tiragens caseiras e não tem selo, por isso são chamados de white labels (selos brancos, literalmente, por não ter nada impresso no papel que fica no centro do disco).
Multiculturalismo fonográfico, sem fronteiras, independente de critica e de executivos, de DJs para DJs.

1 Comments:

Anonymous Anônimo said...

Oh, conheço teu som, e conheço teu irmão advogado. Gostando do teu som, e do seu irmão - e além de tudo de ler bloggs interessantes - resolvi aparecer por aqui e deixar um primeiro recado pra dizer que estarei sempre te lendo - e aprendendo.
Escrebe bem tu tb viu?
Não demore a voltar a Aracaju.
E aproveita a Alemanha (tá, isso eu nem precisava falar).

Bjo

4:08 PM  

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