domingo, março 19, 2006

Felicidade não é Chiclete

Felicidade, segundo Flea, baixista do Red Hot Chili Peppers, é acordar, acender um cigarro que passarinho não fuma e ouvir Captain Beefheart a todo volume. Bingo!

Já Tom Zé, numa de suas mais inspiradas letras promete a amada que no dia seguinte a felicidade vai desabar sobre os homens, para completar que ela – a felicidade – mete medo.

Música e felicidade sempre andaram juntas – insinua-se até que há algo mais entre as duas – e a cara sisuda de João Cabral de Melo – que dizia não gostar de música – só reforça essa idéia. Em qualquer comemoração há sempre alguém que puxa um tema e é logo seguido por outros cantores de última hora. É inimaginável uma festa silenciosa nem mesmo em aniversário de surdo, capaz de sentir as vibrações das ondas sonoras.

O filho da minha amiga, em seu primeiro carnaval no Recife, indaga: pra quê tanta felicidade? Eu me pergunto o mesmo diante de Chicletes, Ivetes, Evas e coisas do gênero. Tanta necessidade de se afirmar feliz soa como desespero. Em todas as letras tem sempre um tira o pé do chão, balança, quero ver todo mundo dançando ... Palavras de ordem gritadas em tom de histeria como verdadeiros nazis da alegria, homicidas da espontaneidade que ficou do lado de fora da corda por falta de grana.

Pula! Mexe! Mamãe sacode!

Grana e desespero movem a cultura em torno da axé music e talvez por isso sua natureza seja tão arrivista. A noção de segmentação de classe social é tão forte quanto as cordas de isolamento e seus tentáculos econômicos impregnam secretarias de cultura de todo o país em busca da diversão fácil.

No mundo axé, não há espaço de reflexão e para garantir isso o som é alto e agudo, as cores berrantes enchem os olhos, as luzes fortes iluminam os sacerdotes –cabelos sebosos, belas pernas, litros de tintura, modos de pop star - turbinados por algum super Prozac berram no microfone rebola, sobe, desce ...

Não há estudo sobre isso mas arrisco dizer que a indústria da estupidez é a que mais cresce nesse mundo, é a mais lucrativa e, no fluxo global, a axé music vergonhosamente representa o Brasil.

Água

O Dilúvio é o nome de uma revista/fanzine gaúcha não só bem intencionada como efetivamente bem resolvida. Entrevistas longas, textos politizados e, eventualmente, uma dose de ingenuidade necessária. Numa das edições, entrevista super bacana com nosso querido Bactéria, do Mundo Livre s.a.

Nos últimos exemplares a revista traz como opção um cd com novos nomes da cena de Porto Alegre.

Como comprar?

Manda email pro Tiago Jucá: revistaodiluvio@yahoo.com.br

Para checar sem gastar um puto, tente o http://www.necessito.com.br/odiluvio/

Anarquia

Estou relendo e adorando mais uma vez “O curto verão da anarquia”, de Hans Magnus Enzensberger. O livro – com subtítulo “romance” – reúne um apanhado de depoimentos devidamente editados, que nos conduzem a vida de Buenaventura Durruti, líder anarquista espanhol que, em plena guerra civil, montou um enclave utopista em Zaragoza.

Seus feitos e aventuras são quase inacreditáveis, daí o autor batizar de “romance” embora cercado de registros dos fatos.

Editado pela Companhia das Letras em 1987, está fora de catálogo e é minha recomendação de compra para a próxima vez que você, amigo leitor, for num sebo de livros.

Gibi

Um dos repórteres de guerra mais importantes da atualidade registrou suas impressões em quadrinhos. Seu nome é Joe Saco. Depois de ter estado na guerra da Bósnia e encarar áreas de assentamento palestino em conflito com o exército israelense, ele nos oferece um pouco de humor em Derrotista, uma compilação de trabalhos antigos.

A primeira série tem desenhos muitos influenciados por Crumb e personagens satíricos como o contador marxista que colabora para a derrocada do capitalismo consumindo mais café e chá que o suportável na firma onde trabalha ou o ecologista que promove uma greve de fome ... no seu gato.

O álbum é recém lançado e facinho de achar.