domingo, março 05, 2006

Sem Juízo

Ryan Larkin é o nome de um ex-animador canadense que foi indicado ao Oscar e tornou-se referência no mundo dos filmes desenhados. Sobre ele foi feito um documentário (Ryan, de 2004) bastante perturbador, com recursos de 3D com ares de caricatura hiper realista espiritual (!?). O detalhe importante é que Ryan, no auge da sua carreira, despencou num abismo de álcool e cocaína que o tornou um mendigo igual a tantos outros nas ruas de Toronto.
Num dos depoimentos, do produtor executivo dos filmes de Ryan, uma chave-mestra: “Como tantos artistas Ryan tinha medo de perder o juízo”. Muitas vezes abrimos mão de muitas coisas, jogamo-las fora pelas janelas da vida para manter nosso senso de equilíbrio entre a fantasia, o desejo e a realidade.
Das várias formas de arte, a música parece tocar as pessoas mais facilmente e o músico é aquele cara bacana que toca o que a gente gosta de ouvir e nos representa do alto do palco. Sim, por que se sentir representado é a cola que atrai o público. Em meio a bajulações, paparicos, grana a rodo, sexo abundante e elogios fáceis, é muito comum qualquer um perder irremediavelmente seu precioso juízo.
Aliás, nem é preciso ir tão longe. Aqui mesmo na cidade já houve casos em que a fama – pequena, minúscula, quase microscópica – subiu à cabeça de alguns, conduzindo-os numa viagem sem volta ao mundo cego da vaidade e da autodestruição. Amigos traídos, ideais comprometidos e talento desperdiçados pela fama, fatal fama.
Imaginem, camaradas, quando se está no topo do mundo como um Elvis inchado, isolado, sem amigos verdadeiros – apenas assessores puxa-saco – que o ponham no chão e evitem o suicídio da consciência.


Carnavália 1

O Porto Musical seguido do carnaval é um verdadeiro teste para a saúde da gente. Esse ano devo ter perdido alguns milhões de neurônios torrados pelo sol ou largados nas ladeiras da vida.
O Porto cresceu significativamente esse ano, o que expôs alguns problemas de conceituação – a temática é tão ampla que se dilui na extensa programação em relatos de experiências pessoais nem sempre interessantes – e formatação – seria ótimo ter debates mais longos, com bons mediadores, aprofundamento dos temas e interação maior com a platéia... do jeito que está, tem-se muitas vezes a sensação de que nada ficou depois de uma hora de monólogo e colocações fragmentadas da audiência. A falta de um tronco conceitual também se reflete na programação dos shows que esse ano foram demasiadamente irregulares. Os vazios na Praça do Arsenal eram um claro demonstrativo de que faltou pegada em alguns grupos para manter o público atento.
O evento é jovem – essa é apenas a segunda edição – e deve melhorar com o tempo e os ajustes necessários.
A parte boa foi possibilitar o encontro de músicos da região com profissionais de porte internacional – não é todo dia que a gente esbarra com o programador do Barbican Center, de Londres, ou do mega festival Dinamarquês, Roskilde, nas ruas do Recife –, resultando em convites para shows e articulações de lançamentos de discos no mercado exterior.

Carnavália 2
Vazio de público também estava o Rec Beat, numa das mais equivocadas programações do festival, referência sólida do carnaval recifense. É inexplicável a presença de um grupo de cover dos Beatles ou aquele estranho sopro de rock progressivo e o horrível arremedo tecno no palco do festival que costuma ser tão bacana.
Entre os acertos, veteranos como Riachão e o Carimbó Uirapuru ou os óbvios Nação Zumbi, Eddie e Academia da Berlinda, tiros que nunca erram no gosto do público. Faltou ousadia e espero ansioso por uma programação mais inspirada no ano que vem.

1 Comments:

Anonymous Anônimo said...

Rapaz, faz uns meses que passei aqui pela última vez e esse blog tava meio abandonado. Boa surpresa, hein? O curta Ryan é ótimo, gosto muito dele. Somente uma correçãozinha: o cineasta que perdeu o juízo virou mendigo nas ruas de Montreal, não de Toronto. Abração.

6:04 PM  

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