quinta-feira, fevereiro 02, 2006

O Intepro

Encontrei o Intelectual de Província num bar sufocante, mesmo que aberto fosse para o céu estrelado daquela pequena cidade nordestina. Ele é um performer!! Gesticula e fala pelos cotovelos, despejando toda sua sabedoria nos pobres ouvintes emudecidos diante de tanta erudição. Sim, porque o Intelectual de Província sabe tudo sobre todas as coisas já feitas no planeta Terra, por mãos humanas ou divinas, desde detalhes da corte de Idi Amim Dada ao colosso de Rhodes. Nada escapa às leituras dessa sumidade.

Com a certeza de leitor dedicado, ele descreve as montanhas da lua e a temperatura do Sudão carregando no sotaque, pois o Intepro (assim o chamaremos dada a nossa intimidade) é acima de tudo um nacionalista, patriota e cidadão atuante de sua vila.

Na banda maranhense Tribo de Jah quem tem um olho é cantor. Em seu ambiente dominado pelo mormaço esse ser humano é tido como “um crânio”, uma sabedoria sem igual, quiçá o “Rui Barbosa dos nossos tempos”, e, portanto, exerce o cargo de professor. Talvez porque nunca passou pela cabeça de seus pares que informação sem reflexão serve apenas a almanaques de curiosidade e memória acentuada não significa inteligência.

O Intepro é, no fundo, um tolo, palhaço involuntário de mesas de bares. Ele não percebeu que a experiência é algo insubstituível e sem ela a história da humanidade se torna um conto de fadas esvaziado por falta de diálogo com o presente. Seu pensamento positivista faz-lhe crer que, sim, a sociedade sabe para onde está indo, e sua fé na ciência lhe dá a certeza de que os anabolizados frangos de granja são saudáveis e comida orgânica é “uma invenção para ganhar dinheiro”.

O que nosso amigo tem a dizer sobre música? “A originalidade da música acabou com Debussy” (embora alguns dos seus amigos digam que foi com os Beatles). Justamente numa era em que samples e laptops reciclam velhas gravações para pavimentar os caminhos de uma música futura.

Impulsivas

Foi lançado no fim do ano passado nos Estados Unidos e agora em fevereiro chega no Brasil a série de remixes exclusivos para faixas do lendário selo Impulse, que tem em seu catálogo alguns dos mais expressivos nomes do jazz. No cardápio RZA, ex-Wu Tang Clang, revê II B.S. de Charles Mingus; Gerardo Frissina reconstrói Swing Low Cadillac, de Dizzie Gillespie, e este que vos escreve apimentou o Spanish Rice, de Chico O’Farrill. Ainda tem Prefuse 73, Kid Koala (estranhíssimo) e Chief Xciell (Blackalicious) entre outros. Nome do projeto: Impulsive!

Psicodélicas

Sensacional, bom até dar uma dor, são os volumes da série World Psychedelic Classics, do selo Luaka Bop. No primeiro volume, nossos conhecidos, Os Mutantes, em compilação decente e roqueira, mas o bacana mesmo vem com o segundo volume focado na figura do bluesman Shuggie Otis brincando de fazer soul psicodélico. O resultado é singelo, fino e super cool. Bom para ouvir, funcional para agradar as moças. O mais recente, Love’s a Real Thing, trata de bandas do oeste africano, deliciosamente funkeadas e algumas vezes suaves como o vento que sopra nas folhas da savana.

Eletrônicas

Geração Eletrônica é o título do livro lançado durante a série de eventos patrocinada pelo Centro Cultural Telemar, no Rio de Janeiro. Bom para os olhos e para a cabeça, tem textos de Camilo Rocha, Tom Leão, Dudu Marote, Carlos Albuquerque ... Visões de dentro para fora do mundo da eletrônica. Minha contribuição é um texto sobre a cena no nordeste. Mais informações no site www.geracaoeletronica.com.br