Senhor tempo bom
O escritor romeno Emil Cioran descreve uma louca que “corria atrás do tempo”, para agarrá-lo e retê-lo consigo. Há em muitos de nós um quê dessa mulher, desse desejo de segurar um tempo que passou e não volta mais, uma nostalgia, muitas vezes, sobre algo que sequer se viveu. É dessa matéria que se alimentam os dinossauros da música, perdidos no limbo, expostos como cadáveres articulados no museu da memória.
O mais curioso é que a natureza da música pop é efêmera. Uma canção é feita para durar um verão e ser esquecida até que algum produtor a resgate numa compilação nostálgica ou que aconteça aquele fenômeno bem pop chamado revival. E aí toma-se de assalto o porão dos anos em busca daquela época em que se era feliz e não sabia. Porque é muito mais fácil ser feliz no passado.
“No meu tempo é que a música era boa”, dizem alguns.
“Meu mundo é hoje”, diria o Wilson Batista.
A dance music me fascina pela efemeridade e o desprendimento levados ao extremo. Quem produz não quer entrar para a história, nem se importa com medalhinhas do senhor ministro ou a glória da posteridade, não há pretensões artísticas ou devaneios intelectuais pois a filosofia da pista é pragmática: fazer aquele povo esquecer de si próprio e se entregar à dança. A eternidade dura cinco minutos. E eu gosto!!
Em algumas cenas há uma demanda tão grande por novidades e uma intensa e prolífica produção que a criação acaba sendo intuitivamente coletiva como uma terra de ninguém do direito autoral. Semelhante teia também é trançada na música das ruas e dos terreiros. Com a urgência do hoje e a força de quem conjuga o verbo viver no presente.
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