segunda-feira, junho 05, 2006

Tavares!!!

São duas horas da manhã na Praça Vermelha. Turistas, nativos, policiais e músicos perdidos mundo afora como eu circulam maravilhados diante da beleza extravagante das construções locais, sopas de pedras cosmopolitas sob as intenções arquitetônicas do cristianismo ortodoxo.
Moscou é a Nova Iorque do leste europeu - e bem mais doida! -, catalisadora multiracial, pátria de expatriados, a cidade que nunca dorme. O trânsito nas largas avenidas parece ter a mesma intensidade seja às duas da tarde, seja na madrugada fria e iluminada. Para aquecer, uns goles de vodka, acompanhados pelo tira-gosto local composto de um picles de pepino enrolado por uma fatia generosa de gordura suína.
Meu amigo, Oleg, bate no peito - um gesto tão popular por aqui - para afirmar que “nós vencemos todas as guerras em que entramos”. No entanto, nas lojas modernas de Moscou, as prateleiras se enchem do pop ocidental mais vagabundo e achar discos de música russa fora do padrão americano é trabalho de garimpeiro. Talvez seja uma reação ao passado, tempos duros em que a molecada tinha acesso ao rock - proibido pelo regime - em fitas cassetes mil vezes copiadas ou em precários discos de acetato feitos com sobras de folhas de raio X. Pelo mesmo motivo concertos de bandas new wave da década de 80 atraem quarentões - agora já comportados pais de família - aos milhares, em busca do tempo perdido.
Nas inúmeras barracas enfileiradas na calçada, a pirataria controlada pela máfia manda bem e pode-se comprar DVDs legendados em russo do recém lançado Código da Vinci, CDs com novos hits da MTV ou a versão mais recente de softwares da microsoft por poucos rublos. Acesso a internet ainda é coisa cara e difícil de achar mas a visão de negócios dos piratas não perdeu tempo na hora de faturar com a web. Sites em russo - como o www.binural.ru -, hospedados em negligentes servidores locais, disponibilizam quase tudo o que for sucesso em aúdio, vídeo e softwares de um modo tão descarado e simples que faz a gente refletir mais uma vez sobre o futuro da indústria cultural na era digital.
PS: Já ia esquecendo: o Tavares do título era o cumprimento comum durante o regime socialista, algo como o camarada, popularizado entre nós em filmes de espionagem.

Moscovitas

O que fui fazer em Moscou? Fui tocar durante o lançamento de uma marca de cerveja brasileira por aquelas bandas. Do palco a céu aberto eu contemplava 12 graus, de chuva e frio. Na platéia, a molecada de jeans e camiseta parecia acreditar que aquilo era mesmo verão - para eles deve ser - e se jogava na lama tipo, to nem aí.
Depois do show, uma esticada numa club local. Alguém que parecia ser o gerente recebe nossa trupe - paletó de veludo, camisa aberta e nada de gavata - com garrafas de black vodka. Minha amiga pergunta se ele é o dono do club, mais ou menos, é a sua resposta. O alemão ao lado susurra que na verdade, ele é o dono do bairro.
A máfia é uma instituição tão forte quanto os pequenos ovos/porta-jóias cravejados de brilhantes na cultura russa.

Biscoitos finos

Disco é o melhor presente e se for em vinil e compacto, melhor ainda. Acabei de ganhar dois bem bacanas: o Raconteurs, badalado projeto paralelo de Jack White - o carinha do White Stripes - é simpático e despretencioso, de um lado tem Steady, as she goes, do outro, Call it a day; em outra praia, Gnarls Barkley soa como o encontro do DJ Shadow com o Outkast em Just a thought e simplesmente pop de primeira em Crazy.