A volta dos mortos vivos
É noite na cidade do Recife e o terror está instaurado. De um passado sombrio de trevas e medo, ressurge o monstro que pensávamos estar morto. Músicos recifenses, tremei-vos !!! E a única proteção possível são carteirinhas plastificadas, emitidas no sórdido covil da criatura. Mais caduco que a velha debaixo da cama, mais feio que o bicho-papão, o ser estende suas garras carregadas de papéis ensebados nas caras dos pobres músicos que tentam trabalhar na cidade. Da escuridão do Edifício Inalmar para os spots dos palcos, está de volta a OMB, sigla nefasta que significa Ordem dos Músicos do Brasil que, depois de um bom tempo sob uma liminar que nos alforriava de seus grilhões, volta com carga total.
Longe de proteger os profissionais da música, a tal da Ordem implanta terror e achaques sob a categoria. Seus poderes são federais, com direito a cobertura policial, se necessário, embora o desacerto de sua lógica seja tão grande quanto sua força.
A OMB tem o direito de estabelecer quem é músico e quem não é. E o pior: pode proibir o trabalho honesto de quem ganha a vida com a música, o que é absolutamente inadmissível porque música ruim não mata ninguém, não fere e, no máximo, esvazia o salão. Quem tem que julgar o músico é a platéia e não burocratas da cultura.
Seu caráter protecionista é muitas vezes eticamente duvidoso, seu gatilho do retrocesso tem raízes ditatoriais e sua desconexão com o mundo atual é gritante.
O teste de admissão é superficial e humilhante mas pode ser comprado. É só pagar (uns trocados são sempre bem vindos) por uma carteira provisória. Enfim, um claro caso de inutilidade pública.
Uns
O Coquetel Molotov lança hoje mais um número de sua revista homônima em clima de festa na rua do lima.
O design, a impressão superam a edição anterior que já era excelente mas, editorialmente, sua principal virtude é também o que seria o maior defeito: toda a revista é focada num público muito específico. A pauta se restringe em detalhes que não interessam a maior parte das pessoas e algumas entrevistas dão uma corda grande pra egotrip dos entrevistados, caso da matéria com Catatau.
No número anterior essa qualidade (ou defeito) era mais evidente. Dessa vez há uma leve tentativa de ampliar público, o que acho saudável. Fico na torcida por uma revista que tem possibilidade de se tornar referência nacional.
E outros
Em tempos de internet, blogs, fotologs não se fazem mais fanzines como antigamente. Bom, esse velho punk se surpreendeu com zine aperiódico “Dessalve”. Xerocado, tosco e repleto de energia rebelde, é a típica publicação perdida no tempo. Fiquei comovido. Peguei meu exemplar na Elemental, aquela loja de quadrinhos que tem no cruzamento da Riachuelo com a Aurora.
1 Comments:
nino, teu texto eh bom que dói. bb
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