sexta-feira, dezembro 09, 2005

Tecnologia, generosidade e groove.

O que mais atraiu os pioneiros da eletrônica em gêneros como house, tecno ou D&B foi o baixo orçamento. Quase nada se comparado ao custo de gravar uma banda inteira. Em sua essência a eletrônica seria uma continuação do espírito Do It Yourself (faça você mesmo) dos punks pois baixo custo significa falta de compromisso com vendagens altas e, consequentemente, mais liberdade de experimentação.

No Brasil, a eletrônica veio de cima pra baixo, trazida por jovens de classe média deslumbrados após uma temporada européia. De modo geral o cenário desenhado no país foi traçado pelo mix de muito dinheiro e nenhum compromisso. Lugares incensados como o Hell’s em São Paulo eram de fato ... um inferno de deslumbramento jeca movido a drogas de má qualidade. Depois de tanta fritura não sobrou um track memorável pra contar história.

Em março do ano que vem, seguindo caminho inverso, Arcoverde servirá de base em Pernambuco para um dos mais interessantes projetos na área de inclusão digital entre jovens economicamente carentes. Trata-se do Eletrocooperativa, já testado em Salvador com sucesso absoluto. Liderado pelo produtor Gilberto Monte, o núcleo baiano produziu seis CDs entre Hip-Hop e curiosos experimentos eletro-acústicos além de um PF de primeira para DJs: CD com loops de percussão inteiramente gratuitos para quem quiser samplear e construir sua própria faixa. Tecnologia, generosidade e groove.

Jovens durangos brasileiros tem três possibilidades de ascensão social: futebol, crime ou música. A que mais me agrada é a última. O pessoal da Eletrocooperativa fez o trabalho completo e além de treinamento e aparelhagem ainda organizou um núcleo de vendas para os CDs lá produzidos. Custam 5 reais cada, e são vendidos em tabuleiros nas ruas de Salvador, competindo no gosto e no preço com os camelôs.

Destaque para o trabalho super particular do DJ Mario, gravado em casa, ao vivo, com dois turntables, um rádio sintonizado e um sampler basicão.

Quem canta

Pesquisa da semana passada revela: leitores dessa coluna cantam jazz e sambas quando dá um aperto no coração. A mais recifense de todas as leitoras, Liliana, desfia clássicos do cancioneiro pernambucano num catamarã. Vejam que luxo: embaixo do sol, sobre as águas do Capibaribe e ainda mais cantando “Recife, cidade lendária”.

Super obrigado para Indira que, não só abriu seu repertório como ainda me enviou MP3 de sua faixa favorita: “Mas quem disse que eu te esqueço”, com Dona Ivone Lara.