quinta-feira, novembro 17, 2005

Poeta de latrina

“Triste vida, triste sina, do poeta de latrina”, estava escrito na porta do banheiro público. Posso imaginar o poeta anônimo remoendo sua mágoa naquela posição que nos torna, ricos e pobres, iguais.

Ah, os artistas! Todo mundo quer se expressar e ser reconhecido como indivíduo de destaque no meio do gado que atravessa a faixa de pedestre nos sinais das avenidas. Alguns trazem flores e outros, espinhos. Uns cantam e outros dançam. Alguns são institucionais, alguns, marginais.

Outro dia, um artista de Olinda, num debate sério com profissionais da música, bradava, dedo em riste: “Eu odeio o mainstream, eu não quero ser mainstream”. Para quem não é familiar, o termo mainstream designa a cultura dominante, comercialmente bem sucedida. É o oposto do underground, da cena que não lucra tanto e, às vezes, se diverte mais.

O problema é que na maioria das vezes o artista underground só é underground por que ninguém, exceto ele mesmo e seus dois ou três amigos, o vêem com relevância artística. No íntimo seu sonho é passear pela cidade montado no elefante da glória e do triunfo, paparicado por um harém de belas donzelas, o bolso cheio de dinheiro, fruto justo de sua arte.

Desdenhar o bem-sucedido soa como a fábula da raposa e das uvas. Como a raposa não conseguia apanhar um cacho de uvas, dizia que estavam verdes e não prestavam para comer.

Opor sucesso comercial e valor artístico é um erro gravíssimo, obscurantista. Música, como qualquer forma de arte, é expressão séria de humanidade mas também é um produto. Saber vendê-lo e manter-se íntegro é para poucos. O que sobra são os poetas de latrina.

Você, de revólver na mão, vira bicho feroz ...

A festa Liquid Sky, realizada no último sábado teve alguns problemas: line up mal montado que não sustentou público no palco dois, a mistura com a tribo do trance que não se mistura com mais nada, o horário e o local no centro da cidade não favorecia uma boa vibe. Sério mesmo foi a arbitrariedade da polícia civil que se infiltrou na festa vestidos de clubbers (uh!! dá pra imaginar?) e arrastou algumas pessoas para a delegacia. Entre eles uma figura folclórica da cidade que apanhou de graça e no local da festa apenas por causa de seu visual rasta. Ele nada tinha consigo. Violência e covardia absolutamente desnecessárias pois trata-se de um das mais pacatas criaturas que freqüentam a noite recifense.

Crazy

Escrevo essa coluna enquanto escuto um DJ set muiiitoooo maluco do DJ Enrico, de São Paulo. Hardcore com pitch no talo e mixagem esquizofrênica. Tás tranqüilo em casa e quer ficar nervoso?

Então acesse http://www.rraurl.com e digite Enrico no espaço de busca.