domingo, outubro 23, 2005

Cleptomúsicamania

Há 25 anos atrás o desconhecido grupo Negativland ganhou notoriedade após misturar pedaços do mega hit, “I Still Haven’t Found What I’m Looking For” com piadas gravadas em off do comediante Kasey Kasem acerca dos pseudônimos dos integrantes do U2. A Island, gravadora do grupo irlandês, entrou com um processo que gerou mais dinheiro que o Negativland jamais conseguiu movimentar.

Precursores da discussão sobre uso de samples e críticos ferozes das leis que regem os direitos autorais, o Negativland lançou recentemente mais uma série de áudio- colagens onde a propriedade intelectual, como a conhecemos, é duramente satirizada.

A obra em questão é “No Business”, um envelope amarelo que contém trechos dos beatles, Julie Andrews, comerciais de TV e transmissões de rádio. Os caras são tão ousados que cutucaram a cobra com vara curta: o videoclipe presente no cd, é um agregado de imagens surrupiadas e tem a voz do todo poderoso presidente do RIAA bradando contra o dowloading. Na mesma faixa dá pra ouvir trechos de Elton John, Roy Orbison, Blonde Redhead, The Who, Richard Farina e uma delicada Pequena Sereia, de Walt Disney.

O que se questiona é o descompasso entre as novas tecnologias disponíveis que permitem a criação de uma nova arte e os limites impostos por leis e grandes corporações que trabalham em sintonia com priscas eras. No livro que acompanha o envelope os artistas lembram o pequeno escândalo que surgiu na época do lançamento das fitas cassetes. A indústria tentou abocanhar percentuais sobre a venda de cada fita virgem “para compensar o prejuízo” que teriam com a facilidade do público copiar os originais. O argumento meramente mercantilista supõe que a música depende da indústria. Don Joyce, em entrevista para a revista XLR8R ironiza: “A morte da indústria não significa a morte da música (...) A idéia de alguém ter uma carreira ou tocar um negócio baseado em vender pedaços de metal embrulhados em plásticos é historicamente recente e não está escrita na pedra”.